Era uma noite de sábado, 1º de junho de 1991, quando a cidade de Humaitá-Amazonas, com cerca de 20 mil habitantes, vivenciou algo que ninguém poderia imaginar. Até então, Humaitá era conhecida como um lugar tranquilo, onde a maioria da população vivia da agricultura, da pecuária e da pesca. Um município simples, mas cheio de histórias, e que já havia visto nascer grandes nomes como Almino Afonso, ex-governador de São Paulo.
Porém, naquela noite, a tranquilidade deu lugar ao caos. Humaitá, que já sofria há anos com o abandono administrativo por parte do governo do Amazonas, viu sua população, até então pacífica e ordeira, se revoltar. Segundo relatos, os moradores sentiam-se ignorados e deixados de lado, com suas reivindicações ignoradas pelas autoridades. E foi assim que o descontentamento explodiu de forma inesperada.
As ruas, que antes refletiam a calma do interior, tornaram-se o palco de uma manifestação que rapidamente saiu do controle. Supermercados foram saqueados, o prédio da prefeitura e o almoxarifado foram destruídos, e o fogo consumiu as casas do prefeito e do vice-prefeito, além de dois veículos. O clima de revolta espalhou-se como nunca antes visto em Humaitá.
O que inicialmente poderia ter sido um ato pacífico de protesto transformou-se rapidamente em uma manifestação popular tumultuada. Os jornais da época anunciavam: a incitação de jovens para depredar a CEAM, empresa local, foi organizada por líderes políticos, que não mediram esforços para destruir o escritório da empresa, embora, por sorte, os motores não tenham sido atingidos devido à localização deles.
Segundo relatos, três vereadores que instigaram o quebra-quebra patrocinaram bebidas para dezenas de pessoas, e, quando os ânimos estavam inflamados pelo álcool, conduziram os manifestantes até a CEAM. Quando souberam que a Polícia Militar estava a caminho, os vereadores convocaram as pessoas para seguir até a casa do prefeito, mas antes disso o supermercado Neves, pertencente ao vice-prefeito, foi saqueado. O estoque de mercadorias do supermercado foi levado, deixando o comércio em ruínas.
De acordo com outra versão dos fatos, o jornal O Grito Humaitaense já havia chamado atenção para a questão da energia elétrica como um problema crítico no município, especialmente para os comerciantes, que enfrentavam prejuízos significativos ao perder mercadorias devido à falta de energia, muitas vezes por mais de 48 horas, resultando em produtos estragados. No dia do ocorrido, por volta de uma hora da tarde, algumas pessoas se dirigiram à CEAM, onde já havia um grupo consumindo bebidas. Esse contexto acabou gerando acusações contra três vereadores, alimentadas por rumores de que alguém teria financiado as bebidas para incentivar os atos de vandalismo, embora essa alegação não tenha sido comprovada.
A manifestação, que começou com poucas pessoas, rapidamente cresceu, e, ao chegar à residência do prefeito, já contava com mais de 3 mil adeptos. Lá, os veículos D20 cabine dupla e Del Rey foram incendiados na frente da casa, que foi saqueada e depois consumida pelas chamas. Por sorte, os familiares do prefeito conseguiram escapar ilesos, graças à intervenção do 54º Batalhão de Infantaria e Selva, mesmo o Exército não devendo intervir, sendo competência da Polícia Militar.
Os manifestantes se dirigiram à Prefeitura e ao Almoxarifado Central. Todas as dependências foram apedrejadas, móveis saqueados e documentos destruídos ou roubados. No Almoxarifado, o material escolar e os itens destinados a obras na cidade foram levados, e até computadores, adquiridos pela Prefeitura para informatizar os serviços, foram roubados. O caos se espalhou, deixando um rastro de destruição e insegurança em uma cidade antes pacífica, Cr$(cruzeiro) 22 milhões de prejuízo na estimativa da PM, aproximadamente R$2,5 milhões nos dias atuais.