Álvaro Botelho Maia


Álvaro Botelho Maia foi uma figura importante na história do Amazonas, destacando-se como político, jornalista, professor e poeta. Nascido em 19 de fevereiro de 1893, no seringal Goiabal, em Humaitá, Amazonas, Maia teve uma carreira marcante que abrangia diversas áreas de atuação. Ele faleceu em 4 de maio de 1969, em Manaus, Amazonas.

Foto: Alexander, 2024.


Na política, Maia desempenhou papéis de liderança, sendo governador do Amazonas por três mandatos. Ele também foi deputado federal e senador, além de ter ocupado o cargo de superintendente de Porto Velho, que na época correspondia ao de prefeito, de 1° de janeiro de 1922 a 10 de dezembro de 1923, período em que atuou interinamente. Membro do Partido Progressista (PP), Maia teve uma presença significativa na política regional.

Álvaro Botelho Maia foi nomeado interventor do Amazonas em 1940, durante um período de instabilidade política no Brasil. O cargo de interventor, que correspondia a um governo federal nomeado, foi criado durante a Era Vargas e foi uma forma de centralizar o poder em meio à crise política e econômica que o país enfrentava. Maia assumiu essa posição em um momento de transição e reconfiguração política, e sua gestão refletiu as políticas do governo federal, que buscava consolidar o controle sobre os estados e implementar reformas para modernizar o país.

Durante sua atuação como interventor, Álvaro Maia enfrentou desafios administrativos e políticos, mas também teve a oportunidade de influenciar o desenvolvimento do estado e promover iniciativas que ajudassem a fortalecer a identidade e a infraestrutura da região. A sua gestão foi marcada por tentativas de implementar políticas públicas que respondessem às necessidades locais e fomentassem o crescimento regional.

Presidente Getúlio Dornelles Vargas e o Interventor Federal do Amazonas Álvaro Botelho Maia, no Palácio Rio Negro, em Manaus. Foto de 1940, ano da primeira visita de Vargas

Foto: História Inteligente, 2024.


Abaixo uma foto de estúdio capturada por volta de 1935, que retrata o então Interventor Federal no Amazonas, Álvaro Botelho Maia, acompanhado de sua família: ao lado do governante, sua esposa, dona Amazilles Cavalcanti Maia; e suas duas filhas, Terezinha, a primogênita, então uma adolescente; e Alvilles, a caçula, em torno de seus seis ou sete anos de idade. O registro provavelmente se deu no contexto do retorno de Maia à Interventoria no Amazonas, a convite do Presidente Getúlio Vargas, em fevereiro de 1935, cargo no qual permaneceria por dez anos, até 1945. Antes, quando da eclosão do Levante de 1930 – que culminou na ascensão de Vargas ao poder – Maia já havia assumido o mesmo encargo, por indicação de Juarez Távora, um dos líderes da revolução; e nele permaneceu até agosto de 1931, quando exonerou-se em razão de uma querela envolvendo o Poder Judiciário local.

Foto: Acervo da Família Maia.


Era tido por todos que o conheceram como um homem simples, cortês e dotado de um imenso senso de justiça e espírito público. Pela sua vasta cultura, inteligência, eloquência e capacidade de liderança, foi alcunhado pelos seus correligionários com o carinhoso apelido de “Tuxaua”. Ao tempo de seu período como interventor e, posteriormente, governador eleito, Álvaro Maia residiu, juntamente com dona Amazilles e as duas filhas, em dependências do próprio Palácio Rio Negro, uma praxe entre os governantes brasileiros até os anos 1960, que se valiam dos palácios oficiais também como local de hospedagem ao tempo do exercício do mandato.

O governador Álvaro Botelho Maia e o presidente Getúlio Vargas durante jantar realizado no Hotel Amazonas, foto de 1954

Foto: Acervo de Ed Lincon

Sua trajetória no jornalismo foi igualmente relevante. Maia trabalhou em importantes veículos de comunicação como Jornal do Comércio, A Aura e O Libertador. Ele se formou na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais em 1917, consolidando seu conhecimento para atuar também como professor e advogado.

Como escritor, Maia deixou um legado literário que reflete a realidade da Amazônia e suas tradições. Ele foi membro da Academia Amazonense de Letras e presidiu a instituição entre 1966 e 1967. Entre suas obras mais conhecidas estão "Na Vanguarda da Retaguarda" (1943), uma coletânea de crônicas sobre a campanha para aumento da produção da borracha; "Gente dos Seringais" (1958) e "Beiradão" (1958), que exploram as experiências dos moradores da região; e outros livros como Nas Barras do Pretório (1958) Buzina dos Paranás (1958), Banco de Carona (1963), Defumadores e Porongas (1966) e Nas Tendas de Emaús (1967) . Suas obras ajudaram a documentar e valorizar a vida e as tradições da Amazônia.

Álvaro Maia também foi honrado por seu impacto na região. Em 2019, a Rodovia BR-319 foi renomeada para Rodovia Álvaro Maia em reconhecimento à sua contribuição ao estado. Além disso, uma escola estadual em Humaitá leva seu nome, perpetuando seu legado e sua importância para a história e cultura amazônica. Álvaro Botelho Maia continua a ser lembrado como um símbolo de resistência, desenvolvimento e a valorização da identidade regional.

Raimundo Neves de Almeida

Foto: Portal Barrancas

** Com grande respeito reconhecemos o trabalho de Marilda Aguiar do Carmo, cuja dissertação, Literatura Regional na Aula de Língua Portuguesa: Um Caminho para o Reconhecimento Identitário (2021), apresenta a biografia de Raimundo Neves e análise de seus textos. A dissertação na íntegra pode ser encontrada no TEDE da UFAM. Compartilhamos a seguir um trecho integral da obra de Marilda e agradecemos pelo belo trabalho desenvolvido.

Raimundo Neves de Almeida é natural de Humaitá-AM, nascido no lago do Uruapiara em 1943, dedicou-se a escrever sobre a história e a cultura do município de Humaitá-AM. Em suas obras procurou representar, através das poesias, contos e discursos seu encanto/sentimento pela sua cidade, além de apresentar dados biográficos sobre os escritores e poetas da referida região. Esse escritor e poeta faleceu em 01 de dezembro de 2018 na cidade de Porto Velho/RO.

O autor e poeta Raimundo Neves de Almeida escreveu um poema intitulado “Minha Humaitá Querida” representando, em cada estrofe, a história de Humaitá-AM, no qual destacamos os versos que privilegiam a literatura, a cultura e a arte local:

[...]
Terra de homens cultos

E de grandes inteligências,

Cujas famas são conhecidas

No Brasil, por muita gente.

Apenas para ilustrar,

Vou citar Álvaro Maia,

Grande vate literato,

Que se tornou imortal.

Terra de artistas natos,

Cujos valores retratam,

Nas artes que desenvolvem,

Com as suas criatividades,

Do folclore popular,

Rico em lendas e crendices

De botos e de macacos,

Curupira e outros bichos.

(ALMEIDA, 2001, p. 109).
Na poesia de Raimundo Neves de Almeida notamos as críticas às ruínas dos monumentos históricos e a desvalorização da cultura local, representado na poesia “Antigo prédio da prefeitura de Humaitá e sua memória histórica”, em especial nos versos a seguir:
[...]

Mas, o caos inevitável

Do após período áureo da borracha,

Não poupou nem mesmo

Este gigante de pedras e de toras,

Transformando-o no decorrer dos tempos

Num amontoado de ruínas,

Que por muitos anos

Foi algo desprezível

E a vergonha da nossa história.
(ALMEIDA, 2001, p. 84)
Raimundo Neves de Almeida, um destacado historiador e poeta, é autor do livro Retalhos Históricos e Geográficos de Humaitá (2005), uma obra fundamental para entender a história do município de Humaitá, Amazonas. O livro documenta a trajetória do povoado desde sua colonização até a década de 1970, incluindo aspectos geográficos e eventos históricos importantes. Além de escritor, Neves também teve uma carreira ativa em cargas públicas e foi um membro influente na cultura local, sendo um dos fundadores da Associação dos Artistas de Humaitá. Sua contribuição foi reconhecida quando recebeu o título de "Cidadão Benemérito" pela Câmara de Vereadores de Humaitá, refletindo o impacto de sua obra e dedicação à cidade.
Capa do livro Retalhos Históricos e Geográficos de Humaitá (2005)

Foto: Jhully Gomes Morais, 2024.

Capa traseira do livro Retalhos Históricos e Geográficos de Humaitá (2005)

Foto: Jhully Gomes Morais, 2024.