Lenda da Cobra Grande (Boiúna)

Foto: Portal Amazônia

Segundo Isabelle Lima (2021), em matéria para o Portal da Amazônia, a lenda da cobra grande, ou “Boiúna”, faz parte do folclore amazônico e é conhecida em diversos estados da Região Norte. A lenda apresenta diferentes versões, todas profundamente enraizadas no imaginário popular e transmitidas oralmente ao longo de gerações para explicar fenômenos misteriosos ou sobrenaturais.

Entre as versões dessa lenda, há uma que relata uma mulher de uma tribo amazônica que matava e devorava crianças. Revoltados, os indígenas a lançaram no rio. Como “vaso ruim não quebra”, diz o ditado popular, ela não morreu, mas isso só aconteceu porque foi salva por Anhangá, uma entidade poderosa que pode assumir formas variadas, sendo a mais conhecida a de um cervo branco com olhos de fogo, considerado tanto protetor quanto justiceiro, Anhangá castigava aqueles que desrespeitavam as leis naturais, como os que caçavam indiscriminadamente ou destruíam o meio ambiente.

Eles se casaram e tiveram um filho que foi transformado em cobra gigante para que pudesse viver no fundo do rio. Essa criança, agora cobra, cresceu e ficou gigantesca. Com isso, a popular cobra grande começou a assustar e aterrorizar ribeirinhos. A lenda também conta que com a morte de sua mãe, a cobra ficou tão enfurecida que resolveu viver em um estágio de sono profundo embaixo da cidade grande.

Outra versão popular é a que conta que em uma certa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da “Boiúna”, deu à luz a duas cobras gigantes gêmeas. Maria, má, atacava os barcos, naufragando-os. E cansado das maldades da irmã, Honorato a mata e se esconde nos rios buscando alguém com coragem para quebrar o encanto e ajudá-lo a se tornar ser humano.

Em Humaitá, muitos moradores acreditam que a criatura está adormecida sob a Catedral, no centro da cidade. Essa crença simboliza a presença constante do misticismo na vida urbana, conectando os habitantes às forças da natureza e às suas raízes culturais. A lenda é reforçada por relatos de fenômenos misteriosos, como barulhos vindos do subsolo ou enchentes repentinas, que são atribuídos à movimentação da cobra. Em algumas versões, acredita-se que a Boiúna guarda tesouros ocultos ou que aparece como um sinal de grandes mudanças na região. Ela é vista não apenas como uma ameaça, mas também como uma protetora, zelando pelo equilíbrio dos rios e florestas.

O Anhangá, figura espiritual da cultura indígena, muitas vezes aparece nas histórias como um protetor da cobra ou como o responsável por sua criação. O termo añánga, do tupi, significa "espírito" ou "alma". Ele é retratado como um guardião das florestas e dos animais, zelando pelo equilíbrio ecológico e punindo aqueles que desrespeitam as leis naturais, como a caça predatória ou a destruição do meio ambiente.

Em algumas tradições, Anhangá é representado como um cervo branco com olhos flamejantes, um símbolo de força e mistério. Seu papel é frequentemente ligado à preservação dos recursos naturais, reforçando a visão indígena de harmonia e respeito pela natureza. Longe de ser demonizado, Anhangá é visto como um protetor, enfatizando o profundo vínculo espiritual dos povos indígenas com o mundo natural. Esse espírito é descrito como um defensor da floresta e dos animais, reforçando a conexão da lenda com a proteção da natureza.

Além de ser uma história que encanta e aterroriza, a lenda da cobra grande também serve como um alerta sobre o respeito ao meio ambiente e à vida comunitária. Ao longo do tempo, essas narrativas foram adaptadas e reinterpretadas, mas continuam a ser uma parte vital da identidade cultural amazônica, refletindo os valores, medos e aspirações das pessoas que vivem em harmonia com a maior floresta tropical do mundo.